Cultivo de Lithops

A pedido de várias famílias, vou deixar aqui umas linhas sobre o cultivo de Lithops. Este texto confuso não pretende ser um guia definitivo, nem sequer uma reflexão muito profunda sobre um assunto acerca do qual sei alguma coisa - que aprendi à custa de muito ler, muito experimentar e muitas plantas matar... - mas não o suficiente para me considerar "especialista". Tenciono voltar a ele (ao texto) e revê-lo, corrigi-lo, alterá-lo e/ou acrescentá-lo à medida que entenda necessário. Tungas!


O ciclo


Os Lithops são plantas provenientes da África do Sul e Namíbia, em zonas de chuvas estivais. Por essa razão são normalmente considerados summer growers, como dizem os estrangeiros, embora esta designação seja um bocadinho enganadora. Na verdade, os Lithops crescem durante todo o ano, com a possível excepção do... pino do Verão. Confuso? Nem por isso. Se perceber que o período de crescimento activo não coincide exactamente com o período em que deve ser regado, a coisa torna-se mais simples.

Uma planta de Lithops é constituída por dois pares de folhas: as que são visíveis e a que chamamos normalmente "corpo" da planta, e um par de folhas em forma embrionária, bem escondido entre o par de folhas visível. O ciclo anual de um Lithops consiste no desenvolvimento de um par de folhas, partindo destes embriões, e que se realiza à custa do par de folhas do ano anterior. Assim, à medida que o par de folhas visível enruga, encolhe e se abre para revelar o novo par que se aproxima, este vai consumindo as reservas disponíveis até que do par "velho" nada mais resta senão um invólucro papiráceo completamente seco. Nesta altura, a planta desenvolve o seu sistema radicular e absorve água e nutrientes do solo, que usa para crescer. Por alturas do Outono surge uma flor entre o par de folhas que se abre e, caso seja polinizada, dá origem a um fruto. Após isto, a planta reinicia o ciclo de "canibalização" do par de folhas desevolvido para crescimento do par de folhas embrionário.


Este ciclo tem uma particularidade muito interessante: quaisquer erros cometidos com uma planta e que lhe tenham deixado cicatrizes ou marcas, desaparecerão no início da estação seguinte. As novas folhas não os terão.


Se tudo correr bem, após alguns anos de crescimento um par de folhas de Lithops dará origem a duas. Isto é um processo perfeitamente natural e que corresponde ao nascimento de um ramo numa árvore. Ainda se trata da mesma planta, mas agora "bifurcada", sendo que cada par de folhas funcionará da forma que foi descrita atrás.


A rega


A rega dos Lithops deve iniciar-se apenas após a completa dessecação do par de folhas "velho". Caso se inicie a rega antes de estar completa a exportação de água e nutrientes das folhas velhas para as folhas novas, o processo interrompe-se e a planta passará a ter dois pares de folhas adultas, o que é pouco bonito e problemático para a sua manutenção.

A mesma planta em dois momentos diferentes:
à esquerda, ainda é cedo; à direita, o momento certo para regar
Se acontecer virem dias de Primavera quentes e secos antes da secagem das folhas velhas estar completa, é possível (senão desejável) dar alguma água às plantas - mas muito pouca, apenas uns pingos ou uns borrifos ao fim do dia - para evitar uma secagem demasado rápida. Após a secagem completa, pode reiniciar-se a rega "normal" das plantas, conforme se mostra abaixo:

Este é o aspecto que deve ter um Lithops acabado de regar. Túrgido, mas ainda mostrando bem a forma das suas folhas e, no caso desta espécie, com a face superior destas razoavelmente plana.



Este Lithops recebeu água a mais. Está como que "soprado", o que deforma a planta e é um sinal que o substrato não está a secar suficientemente depressa e pode provocar a morte das raízes e de toda a planta. Uma planta neste estado deve ficar sem pingo de água.
Este é o momento de regar um Lithops, quando a secura é bem visível nas folhas. Dependendo do estado do tempo, no momento e no futuro próximo, pode optar-se por uma rega moderada ou por um encharcamento do substrato, no caso de plantas já bem estabelecidas. Plantas recém-transplantadas não devem ser nunca encharcadas, sob pena de as perdermos num par de dias.

Alguns criadores de Lithops dizem que as plantas páram de crescer durante o período de maior calor - digamos, Julho-Agosto, no nosso hemisfério - e que, por isso, é inútil regá-los nesta altura. Acredito que assim seja. Como medida de precaução, se quiserem, nesta altura limitem-se a borrifar as plantas ao fim do dia, quando elas pareçam estar a pedir água. Elas vão aguentar a secura até que o tempo refresque um pouco e se possa regar de novo. Lembrem-se desta Verdade Absoluta: por cada Lithops que morre de secura, morre um milhão por complicações decorrentes do excesso de rega.


A rega de qualquer planta - não apenas dos Lithops - em vaso rege-se por três grandes vectores: meteorologia, substrato e recipiente. Tempo frio e húmido prolonga o tempo de secagem do substrato, substratos muito drenantes secam mais rápido, vasos de barro permitem a evaporação através das paredes e secam mais depressa, etc., etc. Não é possível estabelecer uma regra, tudo depende da conjugação destes três factores.


As primeiras regas da estação, tal como as últimas, devem ser ligeiras. Só depois de termos a certeza que as plantas estão a absorver água pelas raízes poderemos aumentar a quantidade de água fornecida, mas sempre dependendo da resposta e aspecto das plantas!


Outras pertinentes questões ligadas ao cultivo

A rega teve direito a tratamento preferencial por ser uma questão delicada e intimamente ligada ao ciclo vital das plantas - ciclo esse que deve ser escrupulosamente respeitado se queremos que as plantas floresçam regularmente e mantenham o aspecto exótico que nos apaixonou. As restantes questões são muito mais "subjectivas", digamos, e passíveis de ser interpretadas e adaptadas por cada um.


Vasos - A minha preferência vai para os vasos quadrados de plástico, porque permitem espaçar as regas (por serem de plástico) e por permitirem um aproveitamento mais racional do espaço. Os Lithops, com a idade, desenvolvem uma raiz central longa e lenhosa, que necessita de espaço para se desenvolver. Por essa razão, os vasos para plantas adultas não devem ter menos de 8 a 10cm de altura. De qualquer forma, o vaso deve ser de um tamanho apropriado à planta - nada de a deixar a nadar num vaso grande demais. Os Lithops crescem devagar e um vaso demasiado grande leva demasiado tempo a secar.


Substrato - Esta é daquelas questões sem resposta fácil. Há tantas receitas e conceitos à volta da questão dos substratos para plantas suculentas que é difícil dizer alguma coisa que não tenha sido já repetida até à exaustão noutro sítio. Como para os cactos, recomendo um substrato mineral (sem matéria orgânica) e muito drenante, que permita às raizes secar rapidamente mesmo quando o tempo não esteja favorável. Se não estiver com vontade de procurar e informar-se muito sobre o assunto, use um substrato desses disponíveis comercialmente, "formulado" para cactos, e junte-lhe 50% de areia grossa ou areão. Replante as plantas a cada dois anos, se optar por esta solução.


Iluminação - É bem verdade que os Lithops são plantas de zonas desérticas, mas há desertos e desertos. Para além disso, muitos Lithops crescem protegidos pela sombra de ervas, arbustos, pedras ou até enterrados. Quer isto dizer que os Lithops gostam e suportam sol directo, mas podem queimar-se tão facilmente como qualquer outra planta. Quaisquer variações de luminosidade devem ser efectuadas cuidadosa e lentamente, por forma a não provocar queimaduras - que são feias mas desaparecerão na estação seguinte - ou mesmo a morte da planta. A exposição ideal para eles é virada a sudeste, em que apanharão o sol da manhã e do fim da manhã, mas não o das horas de maior calor. Um Lithops bem iluminado será colorido e crescerá rente ao chão.; um Lithops com pouca iluminação vai "esticar o pescoço" à procura de luz, além de se tornar muito menos colorido. De qualquer maneira, não nos podemos fiar muito na cor das plantas, já que esta varia muito ao longo da época.


Adubação - os Lithops são plantas de crescimento lento e pouco necessitam de adubação. Se optar por cultivá-los num substrato de base "comercial", não vai necessitar de o fazer, de todo. Se, por outro lado, optar por um substrato puramente mineral, uma ligeiríssima adubação 3 ou 4 vezes por estação será o suficiente. Use um adubo para cactos, aplicado a metade da concentração recomendada, ou um adubo genérico para plantas floridas, a 1/4 ou 1/5 da concentração recomendada.
Na verdade, se fornecer mais adubo aos seus Lithops eles vão crescer mais. Infelizmente, vão também fazê-lo à custa das características que o tornam tão apreciável - as cores, a resistência, a forma compacta e rente ao solo. É preferível ter calma. Digo eu.


E, para já, é isto. Se tiver tempo e paciência, ainda acrescentarei a seu tempo alguma coisa sobre o transplante e a sementeira dos Lithops, mas não agora. Alguma dúvida, mandem-me um mail ou, melhor ainda, vejam a excelente página do Floren Hernandez, onde podem aprender rigorosamente tudo o que há a aprender sobre Lithops, ainda por cima na perspectiva de um tipo que vive em clima mediterrânico como o nosso (que me perdoem os minhotos...)